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Opinião | Terra do Pecado

por Alexandra, em 16.01.17

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Título: Terra do Pecado

Autor: José Saramago

Editora: Porto Editora

 

A leitura de Terra do Pecado foi uma extraordinária surpresa, para mim, que não esperava muito de um livro escrito por alguém de 25 anos. Embora fosse escrito por José Saramago, o meu adorado Saramago, estava perfeitamente tranquila face à hipótese deste livro estar a anos-luz daquilo que mais gosto e aprecio na sua escrita. Não podia estar mais enganada. A sua estrutura não é tão rígida e característica como aquela a que estamos habituados a ler, contudo, é impossível não notar a essência de Saramago. Posso desde já avançar que lhe falta a originalidade que tão frequentemente lhe apontamos, que é impossível não notar que colocou nele um cuidado extremo (que alguns poderão considerar forçado), tentando aproximar-se de uma escrita clássica, pouco inovadora, contudo, não consegui deixar de me apegar muito a este livro.

 

Terra do Pecado tocou-me de uma forma muito especial e nem consigo bem descrever o porquê de tal ter acontecido. Apesar de não me rever na situação por que passa Maria Leonor, foi-me impossível não estabelecer uma forte ligação com ela, mesmo nos momentos em que me incomodavam certas atitudes. Era como se Maria Leonor fosse aquela amiga a quem compreendemos e perdoamos tudo, sem levantar questões, sem julgar, sem deixar de a amar. 

 

Não quero adiantar pormenores nem tecer considerações acerca do enredo para além do básico. Maria Leonor fica viúva poucas páginas depois do início do livro e tudo o que se segue, os enredos familiares e sociais, as discussões existenciais com o doutor Viegas e a esplêndida descrição de pequenos episódios da infância, que nos chegam através dos filhos de Maria Leonor, é extraordinariamente bem conjugado pelo mestre Saramago, tão novo e tão talentoso. Leiam. Leiam sem saber grande coisa sobre este livro, sem grandes expectativas, e talvez saiam tão surpreendidos quanto eu. 

As ideias que fazemos de Deus, do homem e da própria ideia são, apenas, imperfeitas compreensões do que será a Verdade, se é que, por fim, a Verdade não é totalmente diferente. (...) Apesar de todas estas dúvidas, todos nós, no fundo do nosso ser, cremos em alguma coisa. O próprio doutor Viegas, com tudo o que diz e faz, crê. Cremos justamente porque não sabemos e é esta constante ignorância que mantém a fé, qualquer que ela seja. A Verdade pode ser tão horrível que, se fosse conhecida, talvez destruísse todas as crenças e fizesse do Mundo um grande manicómio. (...)

 

Pontuação: 4

 

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Estou a ler: Terra do Pecado

por Alexandra, em 06.01.17

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Ler Terra do Pecado, o primeiro romance publicado por José Saramago em 1947, é uma experiência deveras interessante para quem conhece a escrita típica do autor, pois este livro é bastante diferente em termos de estrutura. Não é tão rígida e característica como nos seus romances mais icónicos, contudo, é impossível não notar a essência de Saramago. É ainda ténue, como se estivesse a brotar a cada parágrafo, mas evidente, sobretudo aos olhos mais atentos que começam a procurar inconscientemente (ou não) pontos de contacto.
 
A história é interessante e, ao fim de mais de 100 páginas lidas, estou curiosa para saber que rumo vai tomar e qual o seu desfecho. Gosto particularmente da personagem principal, Maria Leonor, que fica viúva, poucas páginas depois do início do livro, e se vê a braços com um doença que quase a consome, graças ao desgosto, mas que consegue ultrapassar. A forma como Maria Leonor se ergue após a doença e o desgosto, embora o segundo ainda esteja sempre muito presente, parece deixar desconfortáveis e intrigados todos os que a rodeiam, fazendo juízos de valor entre si, pelo que se nota claramente que Saramago pretendeu explorar o preconceito tipicamente associado às viúvas e fazer uma crítica à sociedade. Está a ser muito bom regressar a Saramago e conhecer as suas raízes enquanto escritor.
 

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Próximas leituras | Encomenda

por Alexandra, em 18.11.16

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Os próximos livros que pretendo ler no mês de Novembro são de José Saramago e Teresa Veiga, para o projecto Ler os Nossos, sendo que com a leitura de Terra do Pecado darei finalmente início ao projecto Ler Saramago, algo que já estava a adiar há bastante tempo. Nunca li nada de Teresa Veiga e tenho muita curiosidade em fazê-lo, especialmente devido a este fantástico título.

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Esta semana recebi uma encomenda com estes quatros livros (e ainda está um em falta), todos de autores que nunca li e que fui vendo repetidas vezes em pesquisas que fiz, na tentativa de chegar a uma lista de livros essenciais, ou de leitura obrigatória (nem sempre estes títulos em concreto, mas destes autores). Gosto muito deste tipo de listas, mas há tanta informação sobre o assunto que em vez de chegarmos a 100 ou 200 livros e pararmos, ficamos com uma lista que ultrapassa largamente este número, dividida entre autores intemporais, autores contemporâneos, autores portugueses, escritoras de leitura obrigatória, e que parece que irá perpetuar-se até chegarmos ao "fim da internet". Enfim, um mar de informação que nos deixa em extâse, afinal é o nosso amor, e em pânico, porque não haverá tempo nem possibilidade (financeira, editorial, etc.) para tudo.

Há cerca de um mês, depois destas pesquisas mais ou menos aleatórias, comecei a fazer um trabalho de investigação baseado no livro 1001 Books You Must Read Before You Die (1001 Livros para Ler Antes de Morrer), baseando-me na lista em inglês, através da qual procurei as edições correspondentes em português, título, editora, escritor, nacionalidade, género, link no goodreads, lido/não lido, na minha biblioteca pessoal ou não. O ideal seria ler todos os livros desta lista, embora sejam imensos e seja coisa para demorar uns bons anos, mas sobretudo alargar o meu conhecimento a nível literário. Há tanta coisa que ainda desconheço.

Penso que tenho sensivelmente um quarto do trabalho feito, mas tenho tido alguma preguiça em adiantá-lo nas últimas semanas. Além de ser um trabalho moroso, torna-se demasiado mecanizado por vezes e não quero que seja uma obrigação. Tem de ser algo para ir fazendo quando tiver vontade, que me dê prazer em descobrir, que me faça enervar por tantos ainda não terem sido editados em Portugal. Espero este fim-de-semana adiantar mais alguns títulos e pode ser que quando acabar nasça aqui um projecto para concretizar até morrer.

 

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