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Como a primeira visita à Feira do Livro foi feita durante o dia, impunha-se lá voltar para a famosa Hora H. Na segunda-feira, enquanto quase todos festejavam o Santo António, andei a percorrer a Feira do Livro e a fazer belas compras num ambiente bem tranquilo. Às 22h40 já tinha tudo comprado, neste caso, a pilha da esquerda, todos com 50% de desconto.
Comecei pelo grupo Leya, sendo que dez minutos antes de começar a Hora H já eu estava no início da fila para pagar. Como o tempo é escasso, se quiserem comprar vários livros em espaços diferentes e espalhados pelo recito, é um óptima ideia já terem tudo escolhido, pronto a pagar, no primeiro sítio em que passam, neste caso, já sabia que seria aqui que compraria a maior parte dos livros e onde é costume haver mais confusão. Já era mais que certo que ia trazer Americanah para vir fazer companhia aos restantes livros de Chimamanda que moram cá em casa e que quero muito ler este ano. Trouxe também A História de Amor, de Nicole Krauss, por recomendação da Rita neste magnífico post. Da Leya trouxe também o Caderno de Memórias Coloniais, da fantástica Isabela Figueiredo, pois queria muito voltar a lê-la depois de ter adorado A Gorda. Por fim, trouxe também as Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, que tanto interesse me tem suscitado nos últimos tempos.
Seguiu-se a Relógio D'Água, onde foi difícil restringir-me a duas compras, mas lá consegui, já que queria estes dois livros há tanto tempo: Contos Completos, de Lydia Davis, e Um Quarto Só Para Si, de Virginia Woolf.
A caminho do grupo Porto Editora, parei na Cotovia para comprar as Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, numa edição de bolso muito fofa e onde recebi um saco lindo, pouco maior que o livro, e que me apetece levar para todo o lado.
Por fim, foi a vez da Porto Editora onde comprei Escuro, um livro de poesia de Ana Luísa Amaral, do qual a Cláudia me falou, e Ficções e O Aleph, de Jorge Luís Borges, impulsionada pelas compras da Carolina. Como este grupo foi o último que visitei tive de me conter nas compras, caso contrário o rombo na minha conta iria atingir proporções catastróficas, no entanto, fiquei a namorar dois livros que não estavam com etiqueta laranja, mas que queria imenso comprar. Qual não foi o meu espanto quando, no dia seguinte, vi que estavam como Livro do Dia, com 50% de desconto. E pronto, lá fiz uma visita de cinco minutos à Feira do Livro a meio do dia, apenas para comprar a Poesia Reunida, de Maria do Rosário Pedreira, já que sou fã do seu blogue e queria muito ler a sua poesia, e Apenas Miúdos, de Patti Smith, e nada mais, embora vontade não me faltasse (Dentro do Segredo, do José Luís Peixoto, ficou a chamar por mim).
Estas foram as últimas compras da Feira do Livro, algo que continuo a repetir continuamente a mim própria a quase todas as horas. Tenho feito um esforço hercúleo para não pôr lá mais os pés, porque é muito giro ir lá passear, ver os escritores e pedir-lhes autógrafos, ouvir debates ou comer farturas (gourmet), mas não consigo sair de lá sem trazer uns quantos sacos e, por este ano, já chega, tenho imensa coisa para ler. Vão lá por mim e façam óptimas compras nestes últimos dias que faltam para terminar, que depois só para o ano.
Título: Robinson Crusoé
Autor: Daniel Defoe
Editora: Guerra e Paz
Pontuação: 3/5
As primeiras compras na Feira do Livro foram feitas em modo relâmpago. Não tinha muito tempo, mas consegui trazer livros que queria muito ler, a um bom preço. A prova disso é que, em média, cada livro me custou 6,10€.
Aproveitei dois livros que estavam como Livro do Dia: A Rainha Ginga, que já andava a namorar desde que foi publicado, pelo título, pela capa e por não ter lido, ainda, Agualusa, e A Casa dos Espíritos, porque nunca li nada de Isabel Allende e, pelo que investiguei, este é o livro que reúne mais consenso entre todas obras de Allende. Rakushisha veio também para casa porque, para além do preço (3,50€), Adriana Lisboa (nascida no Brasil) venceu o Prémio José Saramago em 2003 com Sinfonia em branco.
Como há uma promoção no Grupo Porto Editora em que quem paga 25€ ou mais com MB Way recebe de oferta um livro com etiqueta laranja, trouxe Austerlitz e Os Anéis de Saturno, de W. G. Sebald, ambos com etiqueta laranja (o que significa que estão com 50% de desconto na Hora H), porque já ouvi falar maravilhas deste autor e já quero lê-lo há alguns meses. Como gastei mais de 30€ neste Grupo, ainda tive um desconto de 5€.
Ainda houve tempo para ir à Relógio D'Água comprar estas três maravilhas (assim o espero): A Ilha de Arturo, de Elsa Morante, porque assim que o nome me saltou à vista algumas vezes ao ler Escombros, de Elena Ferrante, como uma escritora que Ferrante admira e leu muito, senti imediatamente que precisava de a ler. Não Posso nem Quero, de Lydia Davis, porque quero ler tudo de Lydia Davis (ainda vou lá buscar os Contos Completos na Hora H) e porque este título tem tudo a ver comigo. Trouxe também, Despertar, de Kate Chopin, porque já li críticas muito positivas e porque custava, se não estou em erro, 5€. Destes três livros que comprei na Relógio D'Água, nas bancas do lado direito de quem sobe, dois custaram 7,50€ e o outro 5€.
Título: Nadar na Piscina dos Pequenos
Autor: Golgona Anghel
Editora: Assírio & Alvim
Nadar na Piscina dos Pequenos ainda não tinha sido anunciado e eu já andava por aqui a pedinchar um novo livro de poesia de Golgona Anghel. Estava muito ansiosa por lê-lo e com as expectativas muito elevadas o que, neste caso, correu bastante bem. Golgona não desilude nem um pouco, pelo contrário, fez-me gostar ainda mais da sua escrita. Por muito que queira escrever sobre este livro, as palavras custam a sair, é preciso ler e sentir o que está escrito no papel e que, muitas vezes, fica gravado no nosso coração e na nossa mente. Resta-me aguardar pelo próximo.
Hoje vieram buscar-me cedo.
É a tal história, tiram-me do sono,
passam-me para a maca e
ninguém quer saber das minhas vontades.
Nem fui fazer chichi, nem me fizeram o buço.
Estou com o bordado da fronha estampado nas fuças
e, com este péssimo aspecto,
fazem-me desfilar pelos corredores cheios de gente
que acorda de madrugada
e se põe bonita para vir aqui tirar fotografias
a rins e pulmões.
Fora a vadiagem que só entra para aquecer os pés,
estou eu, feita bicho, amarrada a uma etiqueta,
como os cavalos da feira.
Por isso, puxo com os dois braços
uma fralda que encontro por perto
e enxugo o meu rosto pejado de medo,
porque tudo isto é mesmo uma merda,
mas depois melhora um pouco
quando me enchem de morfina
e me devolvem, à saída, o telemóvel.
*
Sempre me pareceu um pouco cobarde
chamar sonho à morte,
dizer negros em vez de pretos,
tia em vez de sogra,
idosos em vez de velhos,
pessoas com rendimento mínimo
em vez de esfomeados, pobres, nós.
Deveria ser completamente proibido
ler amor onde está escrito Roma,
comer com o garfo quando se deve usar palitos.
Os dicionários têm razão.
Precisamos de mais definição.
Não muda nada adocicar a água dos afogados.
As metáforas podem até impressionar
mas não são nada práticas.
Olhem aqui a nossa senhora da verdade, o senhor director,
só figuras, só estilo:
todos trajados de fatinho,
e depois nadam na piscina dos pequenos.
Pontuação: 5/5
Título: Boneca de Luxo
Autor: Truman Capote
Editora: Dom Quixote
Quando comecei a ler a Boneca de Luxo, de Capote, as minhas expectativas eram bastante altas. Trata-se de um clássico muito conhecido, com uma adaptação cinematográfica icónica (apesar de ainda não a ter visto quando comecei esta leitura), pelo que foi impossível não ficar ansiosa por descobrir esta história.
Depois de terminada a leitura, senti-me profundamente desiludida e indecisa entre dar-lhe duas ou três estrelas, tal a minha frustração. Gostei de algumas partes do livro, mas no geral achei-o muito superficial. Estava constantemente a desejar que algumas partes fossem mais trabalhadas/exploradas por Capote (dele apenas tinha lido A Harpa de Ervas, do qual gostei bastante), problema que sinto recorrentemente quando leio contos, pelo que considero que a Boneca de Luxo se enquadra mais no género conto do que num romance propriamente dito.
Apesar de não me ter deixado fascinada como esperava, depois de ter visto o filme e da troca de opiniões no encontro do Clube dos Clássicos Vivos, fiquei a gostar mais deste livro. Percebi que havia mais nele do que aquilo que absorvi na sua rápida leitura e, só por isto, já valeu a pena tê-lo lido e discutido. Foi muito gratificante perceber que os livros nos tocam de formas diferentes e ouvir outras opiniões que nos fazem compreender melhor algumas partes e que transformam, em parte, a nossa opinião.
Pontuação: 3/5
A convite da Carolina, do blog Holly Reader, vou responder à TAG Feira do Livro criada pela Cláudia, do blog A Mulher que Ama Livros.
1. LISBOA: Indica um livro que se passe em Lisboa
O Ano da Morte de Ricardo Reis, o meu livro preferido de Saramago.
2. SOL: Indica um livro para ler no Verão
Ainda não li este livro, mas sei que deve ser lido em noites quentes de Verão. Estou a falar de Três Tristes Tigres, de Guillermo Cabrera Infante, que tenciono ler algures entre Julho e Agosto deste ano.
3. FARTURAS: Indica um livro doce
Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, adorei lê-lo em Dezembro, bem perto do Natal.
4. EVENTOS: Qual o autor que devia ir à Feira do Livro?
Chimamanda Ngozi Adichie, Golgona Anghel, Adília Lopes, Joel Neto, Gregorio Duvivier, Teresa Veiga, Isabela Figueiredo e muitos mais.
5. EDITORA: Elege as tuas três editoras preferidas
Estou certa de que serão as preferidas da maioria dos amantes de livros, mas aqui vão: Relógio d'Água, Tinta-da-China e Quetzal.
6. HORA H: Indica um livro muito bom com mais de 18 meses
Ainda não os li a todos, mas deixo uma nota especial para os quatro romances de Chimamanda Ngozi Adichie, todos anteriores a 2013. Já tenho os três primeiros, todos comprados a metade do preço na FLL.
7. AUTORES: Já pediste autógrafos? Mostra!
Já pediram por mim e também já pedi. Mostro abaixo os de Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto. Tenho também um carinho muito especial pela dedicatória de Pilar del Rio (no livro do filme José e Pilar), que já aqui tinha mostrado.
8. LIVROS: Mostra dois livros que compraste nos meses anteriores e ainda não leste
Meio Sol Amarelo e As Benevolentes, que comprei na última edição da Feira do Livro.
9. LISTA DE DESEJOS: Revela dois livros que pretendes comprar este ano
Contos Completos, de Lydia Davis, e Americanah de Chimamanda Ngozi Adichie.
Para responder à TAG nomeio a Rita, do blog Claro como a água.
Título: Manhã
Autor: Adília Lopes
Editora: Assírio & Alvim
Adília Lopes foi uma surpresa muito agradável, fiquei com vontade de ir a correr comprar Bandolim, tal a paixão.
No meu coração há um lugar especial para poetas e poetisas, no qual passei a incluir também Adília, à qual gostaria muito de dar, um dia, um abraço. Ficam as partes que mais gostei abaixo neste livro que pode consideraria um diário poético:
Escrever um poema
escavar uma toca
*
Palavras Caras
Em minha casa, detestávamos pessoas bem-falantes, palavras caras. De uma vez, apareceu a prima Maria Lucília a dizer já não sei porquê:
- Fiquei muito confrangida.
Passámos a chamar-lhe "a confrangida".
Sempre que aparecia alguém na televisão a declamar poesia ou a falar de poesia, desligávamos a televisão.
*
Chego à janela porque preciso de ar e de árvores. Ah, se não fosse esta velhinha janela onde me vou debruçar para ouvir a voz das cousas, eu não era a que sou.
*
Ler e Estudar
(...)
Entre os 15 e os 18 anos li o Em busca do tempo perdido todo em francês. Comprei na Buchholz. Tinha uma ideia infantil: achava que de volume para volume o francês de Proust seria mais difícil e eu podia não perceber. Só comprava um volume quando acabava de ler o volume anterior. Não tive dificuldades. Tinha o Petit Robert. Havia palavras que não vinham no Petit Robert. Não me afligi.
Aos 21 anos recorri a uma psicanalista estúpida. Contei-lhe que tinha lido o Em busca do tempo perdido. Ela disse-me: Ainda não perdeu muito tempo! As professoras e as psicanalistas não leram livros. Percebi isto tarde. Não vale a pena.
Não foi por estudar muito e por ler muito que adoeci dos nervos aos 21 anos, foi por viver num ambiente deprimente. O que me valeu foi ter estudado e lido muito. Estudar e ler é quase o melhor que há.
Pontuação: 4/5
Título: Leite e Mel
Autor: Rupi Kaur
Editora: Lua de Papel
Depois de ter lido 9 livros de poesia consecutivos, sendo este o décimo, classificar Leite e Mel torna-se uma tarefa árdua.
Achei a composição e construção frásica deste livro demasiado simples, até mesmo banais em alguns momentos, para o classificar de poesia. Antes de mais, devo salientar que se trata de um género que admiro muito, com o qual sou totalmente liberal, e custa-me bastante escrever que não consideraria, à partida, este livro como poesia. Acredito que a maior parte das pessoas irá sentir vontade de me apedrejar depois de ler isto, tal é o sucesso que tem tido, mas a verdade é que este livro dificilmente pode ser considerado poesia se estivermos habituados a lê-la com alguma regularidade, no meu caso, especialmente depois de ter lido 9 livros que estão a anos-luz deste em termos de qualidade de escrita.
Apesar do que escrevi anteriormente, há aspectos positivos neste livro e foram estes que fizeram com que o lesse até ao final. Há que reconhecer-lhe originalidade (e é aqui que posso conceder que seja apelidado de poesia, porque poesia é, também, originialidade). Está repleto de ilustrações muito bonitas, adequadas e em sintonia com os poemas com quem partilham, de forma muito harmoniosa, a página. Finalmente, uma nota positiva para as temáticas abordadas, gostei mais da primeira parte (são quatro no total) do livro. Depois achei-o demasiado repetitivo e muito cheio de frases feitas para o meu gosto.
Pontuação: 2/5
Título: A Contraluz
Autor: Rachel Cusk
Editora: Quetzal
Descobrira, igualmente, que a doença lhe permitia olhar para a sua vida, e para as pessoas que tomavam parte nela, com maior objectividade. Compreendeu que não estava tão ligada a estas pessoas como julgara, especialmente ao filho, pelo qual, desde o instante do seu nascimento, experimentara uma constante e imensa preocupação, vendo-o como um caso excecional de sensibilidade e vulnerabilidade, até ao ponto de ser incapaz - ela percebia-o agora - de o deixar sozinho um minuto que fosse. Ao regressar ao mundo após a sua doença, o filho pareceu-lhe, se não um estranho, ainda assim dolorosamente menos ligado a si por cada um dos filamentos do seu ser. Ainda o amava, claro, mas já não o via, e à sua vida, como uma coisa que teria de trabalhar até ficar perfeita.
Título: Ver no Escuro
Autor: Cláudia R. Sampaio
Editora: Tinta-da-China
A poesia de Claúdia R. Sampaio é uma daquelas que me faz desejar conseguir colocar por escrito aquilo que sinto, se não da mesma forma, de forma muito semelhante à sua. A prova disso é que não consigo destacar apenas um poema, abaixo ficam os meus três favoritos deste Ver no Escuro, numa edição muito bonita e cuidada da Tinta-da-China. Uma poetisa para acompanhar.
Uma vez quiseram-me louca, a arder
e eu ardi com a discrição de
um fogo posto
porque a cura vai na mesma direcção
que a nossa febre
Ateei-me como um relâmpago inesperado
à luz do dia
Eu parecia uma basílica em chamas
de altar por estrear, a arder sozinha
Sempre me recusei a arder como os outros
Ardam-se mais à esquerda ou mais à direita
mais a vento de sul ou de norte,
mas labaredem-se, sejam fogos que ardem!
Porque pior que a desdita loucura
é toda a gente andar em brasa
mas ninguém chegar a incêndio
E no fim são todos cinza
*
É agora, que te foste embora, o momento
em que nos conhecemos melhor.
É agora, entre este espaço vazio que
vai da minha boca à tua, que está toda
a verdade desembocada em glória.
Aqui estou eu sentada a perder-te.
Aqui estou eu a ser-nos aos dois enquanto
ainda é de noite, a adiar que seja amanhã
quando vou rebentar como as lâmpadas.
Aqui estou eu a escrever enquanto não
encontro o meu corpo que foi contigo
atirado ao teu ombro em casaco pesado
sem etiqueta
por favor não engomes.
Depois não seremos mais nada para além
deste lamber de chão.
Seremos apenas passado recente,
passado passado, passado passadíssimo
uma folga chata que ficou mal esticada.
Depois não haverá o teu rasto entre as
portas, nem o eco do teu cheiro, nem o teu
estremecimento nocturno que era também o meu.
E eu tenho tanta pena de estar aqui a perder-te
porque o meu amor não morre quando quero
o meu amor é Jesus ressuscitado a cada prego
de tão novo como uma metáfora
atinado como um rebanho quente
erguido em dedos longos,
desdobrado.
E agora sou uma esponja e encolho
porque ainda estamos a reduzir-nos
em violentíssimo eco
Adeus, eus, eus
Mas amanhã não.
Amanhã não haverá retorno nem cola que
nos junte as vidas
porque o amor é agora, neste preciso instante
em que levam o lixo, em que a minha cara
encolhe e se enruga em sal, em que sou feia,
em que não estás.
O amor é agora, mesmo quando somos as
palavras esmagadas contra os vidros e a
violência lindíssima de dois corpos mirrados
de costas voltadas.
Amanhã não.
Amanhã celebro em brados cegos o
futuro calmo da secura de um rio.
*
Passei todo aquele poema a viver.
Lambi as palavras desde a folha ao início de
mim, palavras presas na curva dos olhos
por onde desceu depois um verbo.
Vivi repetidamente.
E dentro desta anáfora descobri que um
momento nunca é igual a outro.
Como um poema.
Como eu, que nunca sou igual
a mim própria.
Às vezes sou eu sem ser.
Às vezes morro erguida para que me
desfiem e vistam.
Pontuação: 4/5