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Comecei a ler ontem e já tenho uma boa quantidade de anotações que quero muito partilhar. Há já algum tempo que queria ler um livro de viagens e esta edição de capa dura da Tinta-da-China, que faz parte da biblioteca cá de casa, e que já me havia sido recomendada variadíssimas vezes, estava debaixo de olho. Em primeiro lugar, por ser uma edição tão bonita e cuidada, como a Tinta-da-China nos tem habituado sempre (deixo um link para a colecção de Viagens), em segundo, por ser sobre a Índia. É um país tão fértil nos mais variados aspectos que me faz sentir que será impossível que este livro me desiluda. Abaixo deixo dois excertos da introdução.
A Europa não é religiosa.
É o quê, a Europa?
(...) Como indiano, dir-te-ia: a Europa, aquele continente onde o homem está convencido de que existe e de que se encontra no centro do mundo, e onde o passado se chama história, e a acção é preferida à contemplação; a Europa onde comummente se crê que a vida vale a pena ser vivida, e onde o sujeito e o objecto convivem em boa harmonia, e duas ilusões como a ciência e a política são levadas a sério e a realidade nada esconde, e no entanto, apesar disso, é nada; o que tem a Europa a ver com a religião?
(...) a religião é a gruta de Elephanta, próximo de Bombaim, ao fundo da qual está esculpida em alto-relevo a efígie de Xiva. Esta escultura tem algumas características particulares, graças às quais se pode, com razão, apontá-la como a melhor descrição daquilo a que eu chamo a Índia, ou seja, a religião. (...) É gigantesca, ou seja, ultrapassa a estatura humana; reduz-se apenas à cabeça, ou seja, é obcecante; é multíplice, ou seja, omnipresente. Mas, sobretudo, representa Deus, não como homem, que é o modo europeu de o representar, mas como Deus. (...) Deus é pingue, de meia idade, tem o lábio inferior cheio e pesado, a fronte alta, o queixo gordo, as orelhas grandes. Por outras palavras, a representação de Deus não é idealizada, como na Europa, mas realista.