por Alexandra, em 06.01.17
Ler Terra do Pecado, o primeiro romance publicado por José Saramago em 1947, é uma experiência deveras interessante para quem conhece a escrita típica do autor, pois este livro é bastante diferente em termos de estrutura. Não é tão rígida e característica como nos seus romances mais icónicos, contudo, é impossível não notar a essência de Saramago. É ainda ténue, como se estivesse a brotar a cada parágrafo, mas evidente, sobretudo aos olhos mais atentos que começam a procurar inconscientemente (ou não) pontos de contacto.
A história é interessante e, ao fim de mais de 100 páginas lidas, estou curiosa para saber que rumo vai tomar e qual o seu desfecho. Gosto particularmente da personagem principal, Maria Leonor, que fica viúva, poucas páginas depois do início do livro, e se vê a braços com um doença que quase a consome, graças ao desgosto, mas que consegue ultrapassar. A forma como Maria Leonor se ergue após a doença e o desgosto, embora o segundo ainda esteja sempre muito presente, parece deixar desconfortáveis e intrigados todos os que a rodeiam, fazendo juízos de valor entre si, pelo que se nota claramente que Saramago pretendeu explorar o preconceito tipicamente associado às viúvas e fazer uma crítica à sociedade. Está a ser muito bom regressar a Saramago e conhecer as suas raízes enquanto escritor.