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Este foi, para mim, o típico livro que, assim que começam a surgir notícias divulgando a sua sinopse e anunciando que o seu lançamento está para breve, sinto de imediato a necessidade de o ter nas minhas mãos, de saborear a sua escrita, os seus detalhes, adivinhando que será um pequeno tesouro num oceano vasto de obras e escritores. Comprei-o no fim-de-semana passado e comecei a ler esta semana para o projecto Ler os Nossos e para o desafio #leiamulheres de que tanto gosto.
Após mais de 100 páginas lidas, posso afirmar que está a corresponder às expectativas. Isabela Figueiredo escreve de uma forma muito crua, penso que seja este o termo mais adequado, algo que sinto falta de ler mais vezes. Maria Luísa dá a voz a este romance, onde narra a sua vida, começando por nos apresentar a porta de entrada (presente), após ter feito uma gastrectomia que a fez perder quarenta quilos. Deixou de ser gorda, portanto. Depois de feitas as apresentações, prossegue para as restantes divisões da sua casa (literalmente) recuando no tempo, para 1975, quando veio de Moçambique, sem os pais, estudar para um colégio na Lourinhã e seguindo daí em diante. Maria Luísa mostra-nos que, apesar de ser gorda e ter sofrido com isso, era muito mais do que um mero adjectivo. Estou a lê-lo devagarinho, de modo a desfrutar de todos os seus pormenores.
Sem escrita não havia uma casa onde chegar, tirar o casaco, pendurá-lo, acarinhar a cadela, levá-la à rua, regressar, alimentá-la, sentar-me no sofá e apreciar o gesto. Podia viver sem tomar banho, sem beijos, mas sem escrita não. Ninguém entendia isto, e viravam-me as costas como se referisse uma mania, um vício de gente abastada que se pode dar a luxos. "Estás maluca."